top of page

Amor de dentro pra fora

  • Carolina de Vargas
  • 29 de ago. de 2017
  • 3 min de leitura

Há mais ou menos um ano, eu estava numa reunião entre amigos quando ouvi um comentário que me deixou particularmente desconfortável. Sabe quando você capta no ar alguma coisa dita a outra pessoa mas sente que o interlocutor disse aquilo só pra te provocar? A famosa indireta que não era pra você? Pois é.

Eu me senti furiosa e magoada. Já não era a primeira vez que eu me sentia intimidada por um comentário daquela pessoa, de quem eu gostava tanto. Minha vontade era de agarrá-la pelo braço e perguntar por que é que ela não gostava de mim?! Por que ela tinha de dizer aquelas coisas que, eu tinha certeza, eram pra mim?! Por que é que ela não podia simplesmente ser recíproca e ser carinhosa comigo da mesma forma que eu era com ela?! Eu queria chorar, chorar demais... Mas achei mais apropriado ir ao banheiro e refletir sobre aquilo no meu canto, sem ninguém.

Fechei a porta o banheiro e, ao me olhar no espelho, eu vi meu rosto deformado de raiva. Meus olhos estavam vermelhos e semicerrados, meus punhos estavam fechados, prontos pra briga. Eu estava visivelmente tensa com aquilo e, de repente... eu me senti envergonhada! Aquilo não era eu! Tinha algo de muito errado acontecendo... Então, eu comecei a me questionar sobre aquilo que eu estava sentindo. Afinal, eu concluí com meus botões, aquela pessoa não tinha me dito ou feito NADA. Todo aquele vitimismo estava na minha cabeça e apenas ali. Mas por quê? Por que eu me sentia tão ignorada e, de certa forma, maltratada por aquela pessoa?

Depois de refletir mais uns minutinhos, cheguei à conclusão de que o problema era desrespeito... e o pior: da minha parte. Eu estava desrespeitando aquela pessoa, de quem eu gostava tanto, ao exigir uma reciprocidade absoluta quando isso, na verdade, não existe!!! Pois se cada um tem um jeito e, portanto, um jeito de demonstrar afeto, como posso exigir de alguém que o faça por mim do exato mesmo jeitinho que eu faço?

É, aquilo era desrespeito e estava levando para o buraco uma das amizades que eu mais prezava na vida. E também me atrapalhava em tantas outras relações, como eu descobriria um pouco depois. Até aquele momento, eu simplesmente não conseguia perceber que o desrespeito não está só na aversão a grupos étnicos, opções religiosas e sexuais - por não ter nenhum desses preconceitos absurdos, eu me achava uma pessoa muito respeitosa e legal. Mas eu era uma completa idiota, idiota mesmo, quando se tratava dos pequenos desrespeitos, aqueles às diferentes personalidades que me rodeavam.

Uma pessoa, eu entendi, não é mal-cuidada só por não ser tão vaidosa quanto eu, nem é ignorante só porque não gosta de arte e história como eu. Dentre tantas coisas que as pessoas não eram só por serem diferentes de mim, eu me toquei: não significa que alguém não sabe amar simplesmente porque não vive de abraçar, apertar e se declarar o tempo todo como eu. Esse alguém sabe amar SIM, do seu próprio jeito, que pode ser igualmente lindo.

Neste episódio, eu percebi que estava tentando criar verdades dentro de mim. Eu me atrevia a fazê-lo quando ninguém, absolutamente ninguém, pode dizer o que é certo ou errado, o que é belo ou feio. Eu me lembro bem do que minha cronista predileta dissera sobre as verdades: "Quem tem razão? Cada um tem a sua, e que se atreva alguém a dizer quem está certo ou errado. Há tantas verdades quanto seres humanos na terra.". Desde então, eu venho tentando mudar minha forma de ver as pessoas - e digo com entusiasmo que estou conseguindo! O que eu julgo importante pode não ser tão importante para uma outra pessoa, e isso é completamente normal. Percebi, enfim, que existe um mundo de sentimentos e experiências por trás de cada indivíduo que o faz ser do jeito que ele é, e que, ao entrar nesse mundo, ao pisar nesse solo tão sagrado, o mínimo que eu devo fazer é respeitá-lo e ser gentil.

AH! Sabe aquela pessoa? Do comentário? De quem eu exigia tanto? Eu percebi que, afinal, ela tem sim amor por mim. Nossa amizade se fortaleceu imensamente desde que eu passei a respeitá-la pelo seu jeito de lidar com as situações, com as pessoas. Daí, para entender o jeito dela e valorizá-lo foi um passo. E foi assim que as coisas melhoraram para mim... com essa amiga, com meu parceiro de vida, com minha família. Tudo de que eu precisei foi me olhar no espelho e exigir respeito. Que ele viesse de dentro de mim, do fundo do meu coração, porque respeitar alguém em sua confusa, maravilhosa e verdadeira essência é, com toda a certeza do mundo, a forma mais sincera de amor.

コメント


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags

FEITO

COM

AMOR

Obrigada pela visita!

© 2017 por Com Amor. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page