top of page

O gato cor-de-rosa

  • Carolina de Vargas
  • 17 de ago. de 2017
  • 4 min de leitura

Era um domingo de muito sol naquela cidadezinha onde moravam as irmãs Maria, Tatiana e Helena. Elas brincavam com suas bonecas no jardim quando ouviram a voz do pai, Paulo, que voltava agora de uma breve viagem pelas redondezas.

Depois de ser carinhosamente recebido pela esposa e as filhas, Paulo mostrou para as pequeninas um presente que trouxera de sua viagem. Um presente inesquecível, inacreditável e incomparável. Um presente que, ele sabia, deixaria as três meninas boquiabertas. Um lindo e pomposo gato cor-de-rosa.

Tatiana olhou incrédula para o pequeno bichano. Coisa mais linda ela não havia visto jamais. Que gato lindo! Que gato macio, felpudo! E que... COR-DE-ROSA! Helena, a mais novinha, só conseguia pensar no quão sortuda eram elas... Ganharam um gato cor-de-rosa, um gato igual a nenhum outro. Ah! Quando os colegas da escola soubessem... Seria um alvoroço! Todos iriam querer ver o gato, acariciá-lo, talvez escrevessem um livro sobre aquele animalzinho tão arredio, mas já tão famoso e especial. Seria um sucesso.

A menina Helena propôs então que escolhessem um nome para o bichinho, um nome que fosse único como ele próprio. Pomponildo de Jesus Madeira foi o nome completo com que o felino foi batizado, inspirado num personagem da televisão. Era um nome grande, é verdade. E seria bem difícil pronunciá-lo por completo toda vez que tivessem de chamá-lo. Mas um gato tão macio, tão peludo, tão fofinho e tão cor-de-rosa merecia um nome à sua altura. Merecia um nome grande como os da realeza. Pois ele se chamaria, sim, Pomponildo de Jesus Madeira e, como os nobres são chamados apenas por um de seus infinitos nomes, assim seria o gato: Pompom.

As três crianças passaram a noite daquele domingo alucinadas. Queriam que o dia logo raiasse para que pudessem chegar na escola e contar vantagem sobre o novo mascote da família. Elas seriam famosas, iriam aos programas de televisão para mostrar ao mundo aquele bichinho. E, enquanto adormeciam pensando na apresentação do gato, alguma mágica acontecia lá no quintal e fazia com que a sua cor, aquilo que o tornava tão único e especial, fosse aos poucos se apagando.

Logo o dia amanheceu e, naquela segunda-feira, Dona Neninha nem precisou chamar as filhas para irem para a escola: quando abriu a porta do quarto, lá estavam as três, arrumadinhas, prontas para viver aquele dia especial. Durante o recreio, em nada mais se falava: Dona Neninha e Seu Paulo tinham um gato cor-de-rosa. Havia de ser mentira das três meninas... Mas, ah, Maria era uma menina tão exemplar, ela não contava mentiras. Então era verdade, decidiu-se. Mas onde conseguiram o gato? Era fácil descobrir, pois que a matriarca da família era professora na escola. Todos queriam saber do gato e, discreta que era, a mestra respondia apenas que, sim, o gato era cor-de-rosa, sem mais detalhes. O porquê de o felino ser dessa cor eles descobririam mais tarde, quando fossem à casa das três irmãs para a apresentação oficial do gato à sociedade.

Assim que o sinal soou, as três menininhas foram correndo para a casa. Não havia tempo para papear na rua ou brincar com as amigas. Tinham de preparar tudo para a tão ansiada apresentação do gato. Quando chegaram ao quintal para pegar o bichinho e tacar-lhe um laço de fita bem grande e pomposo, notaram que ele estava... menos cor-de-rosa.

Por que é que ele estava assim? Gato danado, passara a manhã toda brincando na terra, na horta que Dona Neninha cuidava com tanto carinho... Ah, ela ficaria uma fera ao ver suas cebolinhas e rabanetes todos revirados... Mas não importava: logo, logo elas pensariam numa solução para os vegetais. Agora, elas precisavam tirar aquela tonalidade marrom-acinzentada que apagava aquela cor tão única do gatinho.

Maria sugeriu que dessem um banho bem dado naquele bichano: ele ficaria mais felpudo e mais cor-de-rosa para o momento que os coleguinhas chegassem. Foi um corre-corre na casa. Helena buscava a bacia de água e Tatiana corria com o sabonete mais cheiroso que encontrara para que Pompom ficasse bem bonito. A campainha tocou. Era Marília, melhor amiga de Helena, que chegara cedo porque queria ser a primeira a ver o gato. E que bom que ela chegou a tempo de vê-lo, ou ninguém acreditaria no que aconteceu a seguir.

Maria pôs o Pompom dentro da bacia e esfregou seus pelos macios com vontade - eles haviam de ficar ainda mais macios e mais cor-de-rosa. E, ao enxaguá-lo, elas notaram aquilo que mais temiam: o gato estava branco. BRANCO! Branquinho como a neve. Aliás, tão branco mas tão branco que seria capaz de desbancar a própria Branca de Neve. Tão branco que ardia os olhos. As quatro crianças olharam incrédulas para o bichinho. O que aconteceu? Pegaram o gato mais que depressa rumo ao posto de saúde da cidade: aquele gatinho estava doente, só podia! Corriam o mais rápido que podiam quando, ainda na cozinha, foram paradas por Dona Neninha, que queria saber o que é que as meninas estavam aprontando. Quando, com desespero, Tatiana contou à mãe o que acontecera, ela se pôs a dar risadas. O que acontecia, ela explicou às filhas, é que o gato havia sido encontrado pelo pai na estrada de uma cidade onde a terra é vermelha. De tanto brincar no terreno dessa cor, o gato acabou 'pintado'. Era normal, portanto, que ele voltasse a ser branquinho um dia.

"Ah, então eu não quero esse bicho", disse Tatiana, revoltada. Ê menina custosa! Não perdoava a raiva que a (falta de) cor do bichinho havia lhe feito passar. Foi então que, olhando para aquele gatinho, tão macio e agora tão branquinho, Helena percebeu-se apaixonada pela alma do animalzinho - ele era único porque era delas e simples assim. Ela segurou o gatinho em seus braços, deu-lhe um abraço apertado e disse para as irmãs e para a amiguinha tudo aquilo que se passava na pura cabeça de uma criancinha de seis anos de idade, que enxergava, sobretudo, com o coração. Aquilo comoveu quem estava ali e fez com que percebessem o quão especial era aquele gatinho, independentemente de sua cor.

É claro, elas haveriam de lidar com os curiosos da cidade mais tarde, e explicar a cada um porquê o gato era cor-de-rosa e porquê não era mais. Mas isso nem tinha importância, agora a família de Dona Neninha e de Seu Paulo tinha mais um integrante e, naquele lar, havia só amor.

Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags

FEITO

COM

AMOR

Obrigada pela visita!

© 2017 por Com Amor. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page