O sonho diferente
- Carolina de Vargas
- 1 de jun. de 2017
- 4 min de leitura
Essa história é uma reflexão de uma menina sonhadora, que se recusa a ceder ao convencional e só segue o próprio coração. Essa é a minha história.
Semana passada, estava eu em mais uma sessão com o meu psiquiatra. O motivo pelo qual eu estava ali não importa muito. O que vocês precisam saber é: lá estava eu, divagando sobre por que eu me sentia incompreendida pelo resto do mundo, até que, entre uma pergunta e outra, eu soltei uma frase que fez o médico gargalhar durante longos e desconfortáveis minutos: “a vocação da minha vida é me casar e ter filhos”.
Terminada a nossa sessão, num bate-papo descontraído com a minha mãe, o doutor mencionou minha curiosa aspiração de vida. O resultado foi o que qualquer mãe que idolatra a independência e o desapego diria: “Eu falo que ela é louca e atrapalhada!”. Eu já tinha escutado aquilo várias vezes até então, mas confesso que as palavras 'louca' e 'atrapalhada' nunca me causaram tanto desconforto. Naquela noite, pus-me a refletir sobre isso. Sobre como o amor é desvalorizado cada dia mais.
Veja bem. Faz muitos anos que eu namoro a mesma pessoa. Amar o meu companheiro foi a melhor coisa que já me aconteceu. E nós nos encontramos tão jovens!... Para mim é uma sorte, significa que a vida me deu a oportunidade de passar ainda mais tempo ao lado desse cara que é tão especial pra mim. Mas, para o resto do mundo, é uma pena. Por mais linda, intensa e verdadeira que seja a nossa história, o comentário que mais fazem sobre nós é “não se apega, não. É só o primeiro...”
Qual é, gente?! Eu sei que existe a possibilidade de um rompimento, mas sei também que existe igualmente a possibilidade de um “felizes para sempre”. Sempre? SEMPRE! E é aqui que está a questão. Assim como o amor, a eternidade está cada vez mais desacreditada. Hoje é tão fácil separar, se divorciar, terminar relacionamentos... Ou simplesmente não começar. A carência sexual é suprida e a emocional acumulada. São pessoas com agendas cheias de relações vazias.
Imagine uma boate às quatro horas da manhã de uma quarta-feira. Pense nas pessoas que estão lá. A maioria bêbada, inconformada com as frustrações da vida cotidiana, passou a noite toda beijando várias bocas sem sentir nada, só no intuito de provar para si mesmo que ainda vale alguma coisa. Nas fotos do Instagram, parece feliz, livre, curtindo a vida em seu melhor. Mas ali, no chão da boate às primeiras horas de um dia de semana, é só mais um escravo da contraditória liberdade. A regra é ser livre e demonstrar desapego; e no final, são pessoas sozinhas e tristes escondidas sob um disfarce perigoso.
Quantos casos já ouvimos de pessoas que terminam relacionamentos felizes para "viver outras experiências"? Ou que já começam relacionamentos pensando no fim, no próximo da lista... Ninguém é obrigado a ficar para sempre com a mesma pessoa; mas ninguém pode ser obrigado a não ficar.
Fala-se tanto sobre o amor, canta-se sobre ele... é o tema preferido do mundo das artes... Mas não se admira o amor. Todos os dias nos deparamos com piadas na internet depreciando esse sentimento, dizendo que tudo se trata de ilusão, que é um coitado aquele que se apaixona. Criticamos quem troca grandes oportunidades profissionais por uma família, quem vive por uma família. Criticamos aqueles que se apegam a alguém "rápido demais", quando, gente, se apegar é bom demais!
Se apegar é conhecer uma outra pessoa, um outro mundo completamente diferente do nosso, mas ao mesmo tempo tão compatível! E, de repente, vemos que esse mundo não é exatamente como pensávamos, mas é um mundo tão gostoso que queremos conhecê-lo e explorá-lo cada vez mais. A gente gosta daquele mundo e quer cuidar dele, quer desvendar seus mistérios, quer fazer parte dele... E, ao contrário do que muita gente pensa, isso não é nenhuma armadilha. É apenas um território sobre o qual não temos controle. Mas o nosso próprio mundo já não é assim?
Talvez esse comportamento seja uma consequência dessa nossa geração egoísta e insegura, que deposita todas as suas expectativas em si e naquilo que pode conseguir sozinho. "Depender emocionalmente de outro? Nem pensar.", "Se uma pessoa não me faz feliz o tempo todo, há quem faça.", "Não preciso abrir mão de nada por ninguém. Quem me ama me ama como eu sou." E nessa série de equívocos, o amor, a felicidade a dois, a família, isso tudo vai ficando pra trás na lista de prioridades das pessoas.
Ser independente é importante, assim como ter amor próprio. Mas se isso não estiver em risco, qual é o problema de compartilhar uma vida com alguém especial? NENHUM! Todo tipo de amor é válido, todo tipo de amor é lindo. Amor de companheiros, amor de pai e filho, de irmão e irmã, de melhores amigos, de sogra e nora, de dois primos, de ídolo e fã... Amar faz bem.
Cada um deve buscar a vida dos seus sonhos, lutar pelas suas realizações, sejam elas quais forem. Meu sonho é me casar com aquele que é especial para mim e construir uma família. E eu vou mover montanhas para fazer isso acontecer, se for preciso. É a minha felicidade que está em jogo. Isso não me impede de trabalhar, ser bem sucedida. Mas é o meu sonho e é minha prioridade. É o que me faz levantar todas as manhãs e me esforçar para ser melhor sempre. E, no fim do dia, são as pessoas que eu amo que me fazem perceber que valem a pena todas essas frustrações pelas quais o mundo me obriga a passar.
Com o tempo, percebi que meu sonho é tão legítimo quanto o daquele meu amigo que sonha em ser dono de uma multinacional e ficar rico antes dos trinta. E sabe por que? Porque "nada é tão nosso quanto os nossos sonhos". Não tenho medo de me perder ao me encontrar em alguém. Gostar de uma pessoa não significa abrir mão de quem eu sou. Pelo contrário... Amar me desperta as minhas melhores qualidades, me faz querer ser cada vez melhor, mais íntegra, mais admirável. Meu sonho é legítimo porque ele representa quem eu sou. E, os desapegados que me desculpem, mas amar é bom demais... E eu tenho muito orgulho de ser amor.
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